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O peso crescente da comunicação para o desenvolvimento


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A dois meses do 2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado, o Brasil é palco da XX Copa do Mundo de Futebol, organizada e promovida pela Fifa, que com ela projeta ganhos de cerca de 9 bilhões de dólares. Ganhos esses oriundos, em sua maior parte, da venda de publicidade, de marcas, de imagens que, por sua vez, fazem mover uma gigantesca cadeia produtiva e financeira com altíssimo impacto na geração de trabalho e renda, no crescimento do PIB, no comércio internacional.

A Copa é neste momento a melhor tradução da dimensão inegável que a comunicação atinge na sociedade capitalista contemporânea. É sobre essa dimensão que vai tratar a mesa Comunicação e Desenvolvimento durante o 2º Congresso do Centro Celso Furtado. Comunicação, explica o coordenador da mesa, o economista e professor da Escola de Comunicação da UFRJ Marcos Dantas, entendida não do ponto de vista técnico, mas sobretudo vista a partir de seu aspecto cultural, hoje essencial para a própria reprodução do capital.

“Nesse sentido, discutir a política de comunicações como parte de uma política de desenvolvimento e como parte da própria economia é fundamental. Basta ver que esse setor, se o considerarmos em seu conjunto, englobando as telecomunicações, a radiodifusão, a internet, o marketing, o jornalismo, a publicidade, o cinema, a propriedade intelectual, as marcas, imagens, patentes etc. soma em torno de 8% do PIB mundial. Então, não é um setor que se possa desconsiderar quando se pensa em desenvolvimento”, argumenta Marcos Dantas.

Em que pese sua importância econômica no mundo atual, esta ainda é uma área que parece estar à espera de melhores estudos e, por conseguinte, de políticas públicas que aproveitem seu potencial para o desenvolvimento. Segundo Marcos Dantas, alguns países, a exemplo do Reino Unido e da Austrália, já perceberam a importância desse segmento para o desenvolvimento, geração de emprego e renda e bem-estar social, daí formularem, explicitamente, políticas de fomento para o que denominam “indústrias criativas”. Nos Estados Unidos, a indústria cinematográfica produz o segundo maior saldo positivo de sua balança comercial, inferior apenas ao da indústria farmacêutica. Enquanto uma fatura patentes, a outra ganha em direitos autorais.

No caso do Brasil, não existe a rigor nenhuma política voltada para a chamada indústria criativa. “Chegou-se a ensaiar alguma coisa no início do governo Dilma, quando foi criada uma Secretaria de Economia Criativa no Ministério da Cultura, que hoje já está esvaziada. E na verdade, economia criativa hoje é tudo, porque o sistema econômico baseia-se, mais do que nunca, na criação, no projeto, na engenharia, na ciência e tecnologia, nas artes, no desenho industrial, na arquitetura, na inovação. É preciso, portanto, ter uma política clara de incentivo à inovação, inclusive do ponto de vista do desenho, da forma e do marketing. E isso hoje deveria ser o eixo central de qualquer projeto brasileiro de desenvolvimento”, defende o professor.

Ele lembra que em suas derradeiras obras, Celso Furtado passou a dar grande importância à relação entre cultura e desenvolvimento. “No capitalismo atual, quando economia é cultura, e cultura é economia, este debate torna-se ainda mais urgente, inclusive se se trata de discutir e construir um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil, modelo este que não pode ser o do retorno à dinâmica primário-exportadora, mas, antes, deveria ser o do avanço para essas fronteiras de acumulação e progresso baseadas na disputa mundial pelas rendas informacionais e intelectuais, próprias das “indústrias criativas”.

Esse debate, frisa Marcos Dantas, suscita, por outro lado, importantes e legítimos questionamentos: “como a cultura é constitutiva do ser humano, sua apropriação capitalista põe em cheque um amplo conjunto de valores éticos e morais inerentes à humanidade, além de ameaçar sua diversidade cultural, na medida em que valoriza aquilo que seja "monetizável", levando ao esquecimento, até desaparecimento de tudo aquilo que não possa servir para reforçar os padrões de consumo e mercado necessários à reprodução do capital”, diz.

A mesa dedicada ao tema no 2º Congresso do Centro Celso Furtado deverá discutir essa agenda, tentando entender a cultura e os meios de comunicação como agentes econômicos do desenvolvimento, ao mesmo tempo pondo em questão o próprio conceito de desenvolvimento, se apenas acumulação, ou se, mais amplamente, progresso integral do ser humano nas suas dimensões educacionais, éticas, morais e na sua diversidade cultural, explica Marcos Dantas.
Para esse debate, além do próprio Marcos, proponente da mesa e autor do livro Comunicações, Desenvolvimento e Democracia, publicado pela Fundação Perseu Abramo, já confirmaram presença Cesar Bolaño, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), um dos mais importantes pesquisadores brasileiros em Economia Política da Comunicação e autor de várias obras sobre a Rede Globo; George Kornis, professor do Instituto de Economia da UFRJ, que estuda e pesquisa a economia do entretenimento e da cultura; e Artur Castro Neves, um estudioso de regulação dos meios de comunicação, da Universidade do Minho, de Portugal, que falará sobre as políticas públicas de comunicação na Europa.






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