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Mesa vai debater as relações entre consumo e crescimento


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Em palestra recente, o ex-presidente Lula mandou um recado para a equipe econômica cobrando do governo um aumento na oferta de crédito para o mercado interno como forma de reverter a desaceleração da economia verificada nos últimos meses. Para a professora do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Carmem Feijó, essa é uma postura que precisa ser vista com cautela ou, no mínimo, ser mais bem contextualizada para não gerar interpretações equivocadas.

“Será que o presidente Lula, ao fazer esse comentário, não estaria pensando num tipo específico de crédito, como o crédito produtivo? Para esse ainda cabe expansão, mas no caso do crédito para consumo, o sistema bancário já começa a se retrair por conta dos sinais de que as famílias brasileiras estão excessivamente endividadas. Talvez não seja essa a direção mais adequada para o crescimento da economia”, pondera a professora.

As relações entre Consumo de Massas e Crescimento na América Latina serão tema de uma das mesas do 2o. Congresso Internacional do Centro Celso Furtado, marcado para agosto. Coordenada por Carmem Feijó, dela também tomarão parte os economistas e professores Célia Lessa Kerstenetzky, do Departamento de Ciência Política da UFF; Carlos Aguiar de Medeiros, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Luiz Fernando Rodrigues de Paula, do Departamento de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Segundo Carmem Feijó, a ideia da mesa surgiu da mudança, bastante acentuada, verificada no perfil de renda da população brasileira nos últimos anos. “Essa mudança produziu um impacto significativo sobre os padrões de consumo da população, o que, levou, em consequência, a um debate sobre mobilidade social. Esse novo padrão de consumo significa o surgimento de uma nova classe média no país? Quais as implicâncias disso?”.

Outra questão decorrente desse debate, ainda de acordo com Carmem, é se essa mudança no perfil de distribuição de renda pode sustentar uma nova onda de crescimento da economia brasileira. “Dados indicam que o consumo agregado das famílias tem crescido mais do que outros componentes de demanda. E isso nos leva a questionar até que ponto se consegue sustentar o crescimento da economia a partir do consumo, com a estrutura produtiva que temos. Isso vai implicar discutir também política macroeconômica, porque uma parcela desse consumo é de bens importados. Numa perspectiva do comércio internacional menos vigoroso, por conta da crise financeira que muitos países enfrentam, isso agrava ainda mais o problema da balança comercial brasileira”, argumenta a economista.

Para ela, o momento pré-eleitoral em que vai ocorrer o 2o. Congresso é muito oportuno para se questionar se esse modelo de crescimento baseado no consumo já teria chegado a um ponto de saturação, e exercitar ideias alternativas a esse modelo, pensando em que direção podemos avançar sem comprometer a política de distribuição de renda, inquestionavelmente, segundo ela, um fator muito positivo do nosso desenvolvimento recente.

Em torno do tema, há também as discussões sobre as políticas públicas que promoveram essa mudança na distribuição de renda, tanto as políticas de transferência de renda, quanto a de valorização do salário mínimo, que ao melhorar o rendimento do trabalho, mexeu na lógica do crescimento da economia.

“Esse é um tema pouco debatido que está entrando agora na agenda por conta dessa transformação que está sendo observada. O que isso significa? Existe de fato uma classe C, quem é ela? Como se pode identificar uma mudança no padrão de consumo? Qual o impacto que isso tem em termos de política macroeconômica? São questões novas que estão na mesa a exigir um novo olhar. A ideia é, a partir da experiência brasileira, pensar em outros exemplos ocorridos e as consequências disso para a região”, explica Carmem Feijó.

Os demais componentes da mesa são também bastante comprometidos com o tema. Celia Lessa Kerstenetzky lançou recentemente um livro – O Estado do Bem-Estar Social na Idade da Razão / a Reinvenção do Estado Social no Mundo – em que discute o impacto econômico das políticas de distribuição de renda. Carlos Medeiros é um estudioso do crescimento econômico e também de padrões de consumo. E Luiz Fernando Rodrigues de Paula, especializado em setor financeiro, vai trazer a visão da macroeconomia para o debate. 






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