www.centrocelsofurtado.org.br


Os riscos da desindustrialização para a América Latina


Imprimir



“A América Latina vive hoje uma grande contradição político-econômica: vitórias políticas da centro-esquerda convivendo com políticas macroeconômicas neoliberais. Haveria sobrevida para o modelo atual e permanência na OMC (Organização Mundial do Comércio) para os países subdesenvolvidos?”

Esse questionamento, na visão do economista Wilson Cano, professor da Universidade Estadual de Campinas, vai perpassar as apresentações e discussões da mesa Desindustrialização na América Latina, programada para o 2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado, em agosto, no Rio.

Além do professor da Unicamp, também comporão a mesa o economista mexicano Arturo Guillén, que já foi pesquisador-visitante do Centro Celso Furtado e participou do seu 1º Congresso Internacional, em 2012, e o também economista e professor Carlos Henrique Horn, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e diretor do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, a quem caberá a coordenação da mesa.

“Esse é um tema de suma importância para os países subdesenvolvidos, dado que apenas alguns deles atingiram níveis expressivos de industrialização, como é o caso, na América Latina, do Brasil, seguido de perto pela Argentina e pelo México. Mas, para a maioria dos países latino-americanos o nível de industrialização ainda é muito incipiente e, portanto, com um longo caminho a percorrer até seu amadurecimento”, defende Wilson Cano.

Segundo ele, trata-se de uma situação radicalmente distinta da observada nos países desenvolvidos, onde se fala apenas de um sintoma da desindustrialização que é a relação entre a renda gerada pela indústria de transformação e a renda gerada no Produto Interno Bruto (PIB). “Ora, a industrialização cai à medida que as economias amadurecem. Para muitos países o processo de industrialização tornou-se maduro no inicio do século 20, para outros poucos isso se deu depois da Segunda Guerra Mundial. Esses países têm uma urbanização expressiva, têm altos salários, uma boa distribuição de renda e, portanto, padrões de consumo elevados. Sua produção urbana de serviços é alta e passa a crescer muitas vezes acima do crescimento da indústria. Por essa razão, lá a relação indústria/PIB cai. Mas evidentemente, uma análise acurada do comércio exterior e das estruturas produtivas desses países põe por terra essa questão, dado que eles não estão sendo penalizados por uma diminuição de produção. É uma questão mais complexa que envolve investimentos diretos feitos no exterior, principalmente nos anos 1990 e 2000, feitos na China e na Ásia de um modo geral. Ali você não pode dizer que houve uma desindustrialização porque a fábrica continua a ser propriedade de americanos, ingleses ou japoneses, muitas vezes associados com capital chinês, e, portanto, esses capitais continuam a receber os frutos de sua aplicação no setor industrial”, argumenta Cano.

Já na América Latina, diz o professor da Unicamp, o processo de desindustrialização vem de longa data, do debilitamento sofrido nos anos 1980 com a crise da dívida, ao qual, somou-se em seguida a desregulamentação neoliberal dos anos 1990, com a abertura comercial e financeira, as mudanças nas legislações trabalhista e previdenciária, o encolhimento do Estado, as privatizações. “Sentimos, na verdade, um duplo golpe, cujo efeito cumulativo é esse que estamos sentindo hoje. Trata-se de um encolhimento relativo da indústria, porque ela não chega a apresentar taxa negativa, mas a queda de seu crescimento é muito mais pronunciada aqui do que a verificada nos países desenvolvidos”, diz.

Perguntado sobre as consequências desse processo de desindustrialização num momento em que os chamados ativos intangíveis ganham maior peso na geração de valor, Wilson Cano é taxativo: “Nada substitui a indústria. Não é porque aumenta a proporção de serviços na economia, que a indústria deixa de ter peso no PIB. Máquinas e equipamentos industriais são o que efetivamente produz valor e dissemina ciência e tecnologia na agricultura, na própria indústria e nos serviços. Não há substituto para elas, mesmo na chamada era do conhecimento.”

O professor da Unicamp diz que os debates da mesa sobre desindustrialização serão muito enriquecedores por conta da experiência e conhecimento dos palestrantes. Arturo Guillén é um professor latino-americano que conhece como ninguém a economia do México e suas relações com acordos transpacíficos e tratados como o Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). E Carlos Henrique Horn, além de professor da UFRGS, preside a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e já presidiu o BRDE em duas oportunidades”.






Centro Celso Furtado © 2006 - Todos os direitos reservados