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Os desafios para o desenvolvimento da Amazônia


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De maneira geral, quando se fala em ciência e tecnologia da Amazônia, está-se pensando em questões climáticas, biodiversidade, pesquisas básicas relativas ao funcionamento do bioma que garantam a sustentabilidade a longo prazo. Para o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), José Alberto da Costa Machado, essa é sem dúvida uma agenda importante, sobretudo se olhada pela ótica nacional e global. Mas, do ponto de vista regional, a grande demanda da Amazônia é a tecnologia, é uma ciência que seja capaz de ser aplicada ao desenvolvimento.

“Este é o primeiro grande enfoque que desejamos tratar: quando se pensa em ciência na Amazônia, pensa-se apenas preservação do meio ambiente, deixando-se de lado as necessidades do setor produtivo, da economia e do desenvolvimento regional”, argumenta o professor. “Hoje temos 25 milhões de pessoas na Amazônia, em grandes centros urbanos, que precisam ter dinâmicas econômicas. Se essa população não tiver como produzir para viver, ela vai acabar lançando mão dos recursos naturais de forma predatória, o que será ainda mais prejudicial ao ambiente. Ou seja, à agenda da ciência básica é preciso somar-se a agenda da ciência aplicada, das tecnologias produtivas, com vistas ao desenvolvimento da região”.

Foi esta inspiração que norteou a montagem da mesa Amazônia e desenvolvimento: C&T&I requerida, demandas da indústria e suportes para investimentos, que terá lugar na tarde de quarta-feira, 20 de agosto, último dia do 2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado. Dela também farão parte o físico Ennio Candotti, presidente do Museu da Amazônia e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência; o professor da UnB e diretor do Centro Celso Furtado, economista Marcos Formiga; o também professor do Departamento de Economia da Ufam Mauro Thury; e Oduvaldo Lobato Neto, executivo do Banco da Amazônia. Segundo José Alberto Machado que coordenará os trabalhos da mesa, a ideia é que o encontro sirva não apenas para expor a situação da ciência e tecnologia na Amazônia, mas que seja capaz de propor uma agenda para o setor com vistas ao desenvolvimento regional.

“Precisamos criar cadeias industriais que tenham a ver com a região, matrizes econômicas que utilizem os recursos naturais locais, com ciência e tecnologia que garantam sustentabilidade, mas que propiciem níveis desenvolvimento e bem-estar para as populações compatíveis com as exigências da modernidade. Nós temos aqui um Centro de Biotecnologia da Amazônia, cujos laboratórios foram inaugurados em 2002 e que até hoje não funcionam simplesmente porque falta uma personalidade jurídica ao Centro. A nossa agenda fica sempre refém de decisões federais que não ocorrem”, diz.

Para isso, cada um dos participantes trará uma contribuição específica. De acordo com Machado, Ennio Candotti vai tentar investigar se a escala de investimento que o governo brasileiro tem na Amazônia para ciência e tecnologia é de fato relevante quanto fazem crer os vários documentos em que ela aparece como prioritária e vai propor um PAC - Programa de Aceleração da Ciência para Amazônia. “Sem esse esforço de investimento em ciência e tecnologia é bobagem achar que a Amazônia vai continuar protegida”, afirma José Alberto Machado.

Já Marcos Formiga vai trazer o ponto de vista da tecnologia, da ciência libertária do século 21, no sentido de uma ciência que liberte a Amazônia do seu primitivismo em termos produtivos, incompatível com as demandas da contemporaneidade. Mauro Thury, por sua vez, vai apresentar os resultados de uma pesquisa que acaba de coordenar sobre as demandas tecnológicas da indústria da região. “Manaus tem um polo industrial que fatura 60 bilhões de dólares por ano, mas que usa pacotes tecnológicos de fora, sem preocupação com o desenvolvimento de tecnologias próprias adequadas às necessidades locais. O Pará tem uma grande produção mineral, mas exporta esse minério quase em estado bruto, com pouquíssimo beneficiamento. Rondônia tem uma grande produção agropecuária que poderia estar sendo tratada aqui, mas que é exportada como commodity”, exemplifica o professor José Alberto. Por fim, o representante do Banco da Amazônia, Oduvaldo Lobato Neto, vai falar das linhas de fomento de que a instituição dispõe para agregar valor aos processos industriais da região.

“Queremos tirar um pouco essa visão que está muito presente no imaginário do Brasil e do mundo de que a Amazônia é só mato, inseto e água, um santuário ou um almoxarifado que estamos deixando guardado para consumirmos mais tarde. A ideia subjacente a isso é a de que negócio não combina com a Amazônia, como se negócio fosse sinônimo de destruição. Nós temos uma agenda de desenvolvimento na região que precisa juntar a virtuosidade que o ambiente nos propicia com as demandas das populações que vivem lá. Não dá para querer fazer da Amazônia um zoológico ou um horto florestal fechado que sirva aos propósitos preservacionistas do resto do mundo, mas que condene à população local ao primitivismo”, finaliza o coordenador da mesa.

 






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