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Homenagens a Ignácio Rangel e Rômulo Almeida


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Durante o segundo Governo Vargas, era comum o presidente acordar no meio da noite e ver uma luz acesa no primeiro andar do Palácio do Catete. Certo dia, resolveu matar a curiosidade e desceu de seus aposentos para ver o que se passava no andar de baixo. Deu de cara com quatro assessores embalados no trabalho como se fosse pleno horário de expediente. “Vocês são uns boêmios cívicos”, disse-lhes Getúlio, dirigindo-se a Cleantho de Paiva Leite, Ignácio Rangel, Jesus Soares Pereira e Rômulo Almeida, seus assessores político-econômicos então.

Profissionais devotados à causa pública, além de intelectuais que pensaram o Brasil de forma maiúscula, dois desses “boêmios cívicos” – Ignácio Rangel e Rômulo Almeida –, se vivos, estariam completando cem anos de vida. Para celebrar o centenário de nascimento deles dois e debater o legado de suas trajetórias para o desenvolvimento do país, o 2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado vai abrigar duas mesas sucessivas a eles dedicadas, na manhã de terça-feira, 19 de agosto, no auditório do Centro de Estudos do BNDES.

“Vamos homenagear dois grandes brasileiros que foram responsáveis pela criação do Estado Moderno no país. Eles fazem parte de um Brasil desenvolvimentista, nacionalista, foram artífices de instituições como a Petrobras, a Eletrobras e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Ambos foram da Diretoria do BNDES. Rangel pensou também a inflação, a questão agrária, era um grande teórico da economia brasileira”.

O depoimento é de Marcos Costa Lima, sócio e conselheiro do Centro Celso Furtado, professor de Ciência Política na Universidade Federal de Pernambuco e organizador do livro Os Boêmios Cívicos – a assessoria político-econômica de Vargas (1951-54). A ele caberá a coordenação da mesa dedicada ao centenário de Rômulo Almeida.

Dela farão parte também o professor Carlos Lessa, amigo e contemporâneo que conviveu com Rômulo no BNDES; Alexandre de Freitas Barbosa, da Universidade de São Paulo, autor de um livro sobre ele; e Fernando Cardoso Pedrão, da Universidade Federal da Bahia, também amigo e colega de Rômulo Almeida em sua vida profissional em Salvador.

“Rômulo, baiano, foi o primeiro a integrar a equipe de Getúlio e fez o convite aos demais assessores, todos nordestinos e oriundos da pequena classe média: Cleantho de Paiva, paraibano; Ignácio Rangel, maranhense; e Jesus Soares Pereira, cearense”, lembra Marcos Costa Lima.

E é ele também quem diz: “É preciso fazer as devidas atualizações do processo histórico que eles viveram. Não se pode querer olhar os anos 1951-54 como se olha para os anos atuais. Se pensarmos que nesse período os Estados Unidos estavam consolidando sua hegemonia geopolítica e econômica, e exerciam grande pressão sobre o Brasil, a dimensão que o papel deles ganha, como estrategistas, é ainda maior”.

Também estudioso da obra de Rômulo Almeida e idealizador das mesas em homenagem aos dois “boêmios cívicos”, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Ricardo Bielschowsky fala da composição da mesa O centenário de Ignácio Rangel, que será coordenada pelo diretor-presidente do Centro Celso Furtado, Roberto Saturnino Braga, e contará com mais quatro economistas, todos grandes conhecedores da obra do acadêmico baiano.

“Maria da Conceição Tavares e Luiz Carlos Bresser Pereira, intelectuais de expressão, foram também as duas pessoas que mais divulgaram o nome de Ignácio Rangel como o grande pensador que ele foi, acentuando seu pensamento independente, crítico e criativo. Márcio Henrique Monteiro de Castro é um dos principais discípulos e certamente o maior conhecedor de Rangel na atualidade; e Maria Malta, mais jovem, é também uma grande conhecedora da sua obra e representa as novas gerações de admiradores de Ignácio Rangel na mesa”, diz.

Tanto Ricardo Bielschowsky quanto Marcos Costa Lima têm a expectativa de trazer a discussão do legado desses dois brasileiros para os dias de hoje, além de louvar, individualmente, suas trajetórias. “O Brasil tem memória curta e conhece pouco seu passado. A atualização do pensamento de Rangel e Rômulo é muito útil para pensarmos que Brasil queremos, que desenvolvimento pretendemos ter. Esse debate precisa ser retomado e o momento pré-eleitoral em que o Congresso do Centro Celso Furtado vai se realizar é muito oportuno para isso”, diz Marcos.

“Não podemos deixar passar em branco os 100 anos desses dois grandes brasileiros e realçar o pensamento desenvolvimentista na linha nacionalista, no qual eles tiveram papel central”, finaliza Bielschowsky.






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